A entrevista de Divaldo Franco para Jô Soares

Faleceu hoje, 05/08, o grande apresentador, ator, diretor e escritor Jô Soares. Para homenageá-lo, iremos relembrar a entrevista de Divaldo Franco para Jô Soares, ocorrida em 01/09/2016.

Abaixo, a descrição da mesma:

A entrevista de Divaldo Franco para Jô Soares

Jô Soares: Ele é apontado como um grande médium da atualidade, eu vou conversar com Divaldo Franco.

Bem, muito obrigado pela sua presença aqui no programa. Esse é um lançamento do livro de Ana Landi. Agora explica um pouco para nós, sobre esse livro, ele foi psicografado?

Divaldo Franco: É um prazer imenso estar aqui.

Esse livro é biográfico, realizado pela jornalista Ana Landi.

Ela passou uma temporada conosco, procurou acompanhar as nossas atividades sociais e também as atividades mediúnicas.

Ela elaborou o livro, publicamos no ano passado (2015) na Saraiva, demos autógrafos e agora temos o
prazer de estar com você, um grande prazer.

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Jô Soares: Imagina, o prazer aqui é todo meu.

Quando é que você começou a sentir essas manifestações de espíritos, vamos chamar de espíritos por falta de encontrar um nome mais apropriado. Quando começaram a se manifestar através de você?

Divaldo Franco: Quando eu contava quatro anos, nossa família muito católica, no interior da Bahia em Feira de Santana, eu estava brincando na sala e se adentrou uma senhora estranha e me disse “Chama Ana” que era minha mãe.

Eu achei natural e chamei minha mãe que estava na cozinha e quando ela veio eu disse “Tem aqui uma senhora que lhe quer falar” e minha mãe não
percebendo o caso, reclamou, pensou que era uma brincadeira, me puxou a orelha, que naquele tempo podia e agora não pode mais (risos de Jô Soares e Divaldo Franco) e se voltou para a cozinha.

Então a senhora disse: “Di (que é meu nome de família), chame Ana, diga que é Maria Senhorinha, eu sou sua avó.”

Mas eu não entendia nada disso aos quatro anos, meus avós, todos os quatro já haviam morrido, eu não sabia.

Eu voltei a chamar minha mãe. Quando ela veio eu disse: “Olha, é a mulher, ela está dizendo que é Maria Senhorinha e quer falar com a senhora.”

Minha mãe teve um choque porque ela nunca havia falado o nome de sua própria mãe.

Quando ela nasceu sua mãe morreu de infecção puerperal e ela foi atendida por uma irmã mais velha.

Ela ficou assustada: “Mas como você sabe isso?”

Eu falei “A senhora está aqui”, mas ela não a via e então me pegou e levou à casa da minha tia e disse “esse menino enlouqueceu, está dizendo que mamãe está lá.”

A entrevista de Divaldo Franco para Jô Soares
A entrevista de Divaldo Franco para Jô Soares

Minha tia então perguntou: “Como era ela?”

Eu lembro vagamente, a saia arrastava, tinha algo na cintura e chamou-me a atenção qualquer coisa que tinha aqui na região do pescoço.”

Quando descrevi minha tia disse: “Olha, é mamãe, porque esse é um camafeu que eu coloquei no seu cadáver, então procure saber o que ela quer.”

E as duas ficaram com medo, me deixaram sozinho. E então eu não me lembro o que aconteceu.

Aconteceu um fenômeno psíquico com o que eu perdi a consciência. A partir daí, Jô, eu me tornei uma criança mais ou menos especial e meu pai era muito severo…

Jô Soares: Mais ou menos especial? Muuuito especial (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

Divaldo Franco: Porque eu via coisas que os outros não viam. Via crianças, especialmente um indígena brasileiro, que dizia chamar-se Jaguaraçu.

E nós brincávamos muito e eu tinha a impressão que era uma criança como outra qualquer.

Jô Soares: Você brincava com esse indiozinho?

Divaldo Franco: Brincava, trepava nas árvores, corria pelo quintal, aquelas casas de quintais muito grandes.

Jô Soares: E ele trepava nas árvores junto com você?

Divaldo Franco: Sempre chegava na frente (risos de Jô Soares e Divaldo Franco). E eu ficava surpreso e falava: “Ué, como você subiu antes de mim?” E o indiozinho respondia: “Fenômeno, fenômeno…”

Quando eu completei lá pelos sete anos, comecei a perceber que eu via muitos outros seres que os meus pais não viam, e então aí criaram-se muitos problemas.

Porque eu era muito católico, estava sempre na religião, confessava e o padre começou a dizer que aquilo era uma influência demoníaca.

Jô Soares: Por que essas influências são sempre consideradas demoníacas?

Divaldo Franco: É uma coisa absurda, porque nunca me havia proposto nada negativo e então me exigia que tivesse uma vida reta. Aos sete anos eu tinha mais do que reta (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

E então ele disse: “Ore muito.” E então eu orava. Quanto mais orava, piorava, porque eu me concentrava e entrava no mundo psíquico mais forte.

Por fim, aos 12 anos eu briguei com Deus. Porque eu disse para ele: “Você não aguenta o diabo, como é que eu vou
aguentar?”

Se Você que criou o diabo não aguenta, como é que eu vou aguentar?

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Faço de tudo, oro, confesso, comungo…
Nesse ínterim eu adoeci, morreu um irmão meu, e eu fui vê-lo, ele estava caído no meio da rua e eu tive um impacto muito grande.

Voltei para casa, avisei aos meus pais e fiquei sentado. Naquele tempo não havia necropsia nem nada no interior da cidade, só havia um médico.

Ele foi levado para sua casa, ele era casado e morava perto de nós. E então, mais ou menos às oito da noite, minha mãe disse assim: “Meu filho, vamos fazer o velório, vamos orar o terço de Nossa Senhora.”

Nós tínhamos uma mesa muito grande porque nós éramos em treze. Com meu pai e minha mãe, quinze.

Então, era assim muito tranquilo, foi o primeiro laboratório da minha vida (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

E então, naquele momento, eu me quis levantar e não pude. Tentei outra vez e não pude. Quando minha mãe me puxou, eu caí.

Foi chamado um médico e disse: “Isso é um trauma, foi um choque. Se ele tomar outro choque ele fica bom.”

Meus irmãos eram muito inteligentes e me aplicaram um choque elétrico, não sabiam que era um choque psicológico (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

Então, eu não morri porque não estava no programa. Me assustavam… essa coisa do interior.

Por fim, no dia 5 de dezembro de 1944, foi levada à nossa casa uma senhora. Ela me olhou detidamente e falou: “Mas este menino não tem nada.”

Então, pensei: “Nossa, que surra que eu vou tomar.”

Eu estava ali era acamado desde o dia 23 de junho até 5 de dezembro. Meu pai era do temperamento da psicologia e
lá em casa nós tínhamos um psicólogo pendurado atrás da porta.

Qualquer coisa tinha uma sessão de psicoterapia e assim ficava ótimo, sem recalques, sem conflitos, sem nada… (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

Jô Soares: Agora, me desculpe, estou fazendo cálculos aqui, pelas datas que você está me dizendo, desculpe a minha brutal falta de sensibilidade ou de educação, mas com quantos anos você está, quantos anos você tem?

Divaldo Franco: Ah, 89 (surpresa da platéia e do Jô Soares).

Jô Soares: Se a gente passar a mão assim, pega isso de você? (risos de Jô Soares e Divaldo Franco)

E 90 quando é?

Divaldo Franco: 05 de maio. Mas eu não acredito, Jô. De vez em quando eu olho a certidão de idade e penso que deve ter algum engano.

Porque eu não sinto nada. Sinto um prazer imenso de viver, porque sendo Espírita, eu descobri o milagre da vida.

O milagre da vida é a alegria de viver. Trabalhar, ter uma vida interior muito tranquila, fazer uma viagem para descobrir qual é o objetivo da nossa vida na Terra, encontrar um significado existencial e não se abater na hora do problema.

Problemas todos nós os temos, e eles nos chegam como convites ao amadurecimento espiritual e moral.

Jô Soares: Agora, desculpa Divaldo ou Di, sua família chama você de Di…

Divaldo Franco: Di, e fico muito feliz se assim me chamar.

Jô Soares: Então tá bom, Di. Com essa aproximação que você tem com o mundo espiritual, você tem alguma noção ou já foi dito quando você deve se preparar pra embarcar para o outro lado?

Divaldo Franco: A proposta é: esteja preparado para qualquer momento, porque Jesus havia dito que a hora nós não sabemos.

Mas eu tive uma parada cardíaca há 30 anos, e tive a chamada quase morte.

Então eu vi-me fora do corpo, fui levado para fazer os exames e praticamente estava morto.

Voltei, e quando eu voltei tive um infarto. E nessa oportunidade o meu cardiologista depois de me examinar disse para eu me preparar para morrer em um mês, que minha vida seria outra.

Naquele tempo as operações eram largas, faziam da gente verdadeiros frangos, a céu aberto.

O médico me disse que se eu fizesse um maior repouso, viveria mais de 30 dias. Mas não poderia mais se alimentar como antes, não pode falar… Imagina, falar isso para um baiano? É como condenar à morte, porque o baiano não fala, ele fala pelos cotovelos. E você está vendo com que velocidade para não perder tempo (risos de Jô Soares e Divaldo Franco)

Jô Soares: E a comida, como é que ficou a restrição? Você hoje come de tudo?

Divaldo Franco: Ah, uma tragédia. Mas hoje como de tudo e do que aparece.

Mas o mais importante é que eu sobrevivi e ele (o médico) já morreu (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

Eu fui ao enterro, fiz uma oração muito bonita, agradecendo a Deus: antes ele do que eu, é natural (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

Então aqui estou, mas estou muito feliz.

Jô Soares: E qual é o tipo de trabalho que você exerce nesse sentido da espiritualidade? Eu não sei como usar essa nomenclatura e de repente falar uma coisa absolutamente errada, mas é um Centro Espírita que você tem?

Divaldo Franco: Nós fundamos um Centro Espírita em 1947.

Jô Soares: Onde é?

Divaldo Franco: Em salvador

Mas como cidadão eu trabalhei para uma autarquia do Governo, que era o IPASE, hoje são quatro letrinhas muito queridas: INSS.

Todo brasileiro gosta dessas letras, porque faz parte da felicidade (risos de Jô Soares e Divaldo Franco).

Então, trabalhei para o Instituto, aposentei-me em 1980, e dediquei tempo integral ao Espiritismo.

Jô Soares: E como é, você tem um local? Você recebe pessoas?

Divaldo Franco: Nós temos uma comunidade e recebemos pessoas. Nós educamos crianças, somos pioneiros na América Latina com os lares substitutos.

Nós tínhamos uma casa grande, um lar, um orfanato convencional, depois nós criamos os lares substitutos e hoje temos uma comunidade que recebe diariamente mais de cinco mil pessoas.

Jô Soares: Mas você tem o dom da cura?

Divaldo Franco: Não. A cura todos nós temos, Jô. Porque é uma energia que nós possuímos, todos nós.

Quantas vezes alguém chega até você indisposta e aperta sua mão, e você transmite algo e a pessoa pensa: “Mas foi tão bom estar com o Jô.”

Essa irradiação de simpatia, de alegria de viver é transmitida, como também de pessimismo.

Uma pessoa chega, lhe aperta a mão e transmite uma dor de cabeça… Então, nós intercambiamos.

A atividade das curas para nós espíritas é muito relativa, a verdadeira cura interior.

Porque não adianta curar-se de um mal de fora e em próximo período adquirir outro mal.

Jô Soares: Estou vendo que o seu trabalho é impressionante, inclusive no sentido de acolher qualquer pessoa, não importa qual é o credo, enfim.

Mas a gente sabe e sente que tem muito picareta nessa área. Como você faz para combater isso, você dá palestras? Você explica alguma coisa? Porque eu acho que é um dever até.

Divaldo Franco: Já proferi mais de 13 mil conferências, em 70 países, em mais de duas mil e 500 cidades, demonstrando o falso do verdadeiro.

Não é um indivíduo dizer que ele é portador do dom da mediunidade ou que ele cura, esses são falsários.

Esses indivíduos enganam a boa fé, o povo é fácil de manipular.

E quando o indivíduo se apresenta com títulos de aparência grandiosa, principalmente misteriosas, sobrenatural, do fantástico, então há um mito em torno do indivíduo, e as pessoas deixam-se iludir.

Graças aos ingênuos é que os tem os exploradores.

Nós procuramos demonstrar que a verdadeira cura é interior. Se eu me melhoro eu não reflito qualquer enfermidade.

Como diz a Organização Mundial de Saúde: não existem doenças, existem doentes. Pessoas pré dispostas às enfermidades.

A função do Espiritismo é guiar o indivíduo em uma ética de sabedoria, torná-lo melhor, fazê-lo cidadão, fazer
o indivíduo comum no meio de todos, porém diferente na conduta.

Nós vemos hoje a crise mundial, não existe crise mundial, existe crise do indivíduo.

Indivíduos vazios que perderam os objetivos essenciais, e esse indivíduo vazio se comunica com outro e cria esse estado mórbido de pessimismo que todos estamos vivendo.

Jô Soares: Eu vou pedir pra mostrar um filme que tem aqui, não sei, acho que é um documentário, eu não vi, a produção me disse que é uma coisa espetacular, que é muito bom.

Então eu queria compartilhar com a platéia, com o pessoal de casa também.

É exibido um vídeo sobre a Mansão do Caminho.

Jô Soares: Agora, isso é uma cidade que vive de contribuições?

Divaldo Franco: Contribuições, convênios governamentais, principalmente na área da educação. Nós temos 103 professores em convênios com a prefeitura e com o estado. E mantemos também alguns convênios com o Governo Federal.

Jô Soares: Qual é a sua mediunidade, é de psicografar, como era o Chico Xavier?

Divaldo Franco: Sim

Jô Soares: E quantos livros já psicografados?

Divaldo Franco: 260 livros.

Jô Soares: De que autores?

Divaldo Franco: Rabindranath Tagore, que foi um grande poeta indiano, Viana de Carvalho, Joanna de Ângelis, mais de 60 Espíritos.

Agora, a diferença entre nós e outros autores é que nós cedemos os direitos autorais, não só para nossa obra como
para outras instituições, porque o lema do Espiritismo é a caridade.

Mas, não apenas a caridade de doar, mas também a caridade moral, a caridade de compreender os outros.

Cada qual tem o direito de crer ou de não crer, eu respeito mais um ateu digno do que o religioso hipócrita (palmas da platéia e do Jô Soares).

Jô Soares: Muito bem! Antes que eu me esqueça, há muitos anos eu entrevistei o Chico Xavier, acho que ainda no programa “Jô Soares Onze e Meia”.

Dde repente, teve uma coisa engraçada, que ele relatou sobre uma viagem que ele estava fazendo e o avião começou a sacudir.

E ele teve medo de morrer e alguém que estava com ele perguntou se ele estava com medo de morrer e ele respondeu: “Não, eu não tenho nenhum medo de morrer, mas eu não quero morrer agora.” (risos de Jô Soares e Divaldo Franco)

Graças a Deus o avião seguiu viagem e tal. Você tem medo desse encontro?

Divaldo Franco: Não, não tenho. Já me acostumei. A essa altura do campeonato, eu estou preparado para tudo.

Porque já viajei muito de carroça, de avião, de navio, de tudo que existe, então…

Jô Soares: Eu acho que você provavelmente vai morrer de gasto, porque quando chegar nos cento e poucos, cento e vinte… (risos de Jô Soares e Divaldo Franco)

Divaldo Franco: Mas essa é minha perspectiva. Eu estive adoentado e um amigo muito gentil disse: “Não se preocupe de morrer, você está muito bem. pode morrer…”

Aí eu respondi: “Mas quem disse que eu quero morrer? Eu quero viver, sou espírita mas eu quero ver um pouco aqui na Terra. Eu ainda não realizei todos os meus ideais.”

E depois disso nós criamos uma maternidade para atender partos sem dor, e para poder fazer também partos que
não sejam cirúrgicos, e temos um resultado fantástico.

Jô Soares: Eu acho que o resultado fantástico já está espelhado aqui, na sua presença. Eu quero agradecer demais a presença deste humanitário.

Não vou chamar de espírita, vou chamar de humanitário, que é o trabalho, que é o que ele é. Di, muito obrigado pela sua presença.

Divaldo Franco: Mas sou eu quem agradece, Jô.

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Transcrição do Texto: Caminho de Jesus Espiritismo (Entrevista realizada no Programa do Jô)